Os japoneses não têm muito tempo para as refeições. O almoço comumente é uma marmita, chamada de “Bentō” . Ela é sempre bem diversificada. Além de muito bonita, colorida e organizada. A lógica é que temos que olhar para a marmita e ter uma certa pena de destruir o trabalho.
A porção é pequena comparada com os padrões brasileiros, mas comemos tão devagar, com tanto prazer, que no fim se está totalmente satisfeito.
A moderação japonesa pode ser conferida no ditado milenar sobre alimentação: “hara hachi bu” (“oito décimos da barriga”). A expressão é uma recomendação para parar de comer no ponto em que faltem 20% para a barriga encher. A ciência já comprovou o ditado, pois a comunicação do estômago com o cérebro demora. Quando sentimos o estômago cheio, na verdade, ele está com 20% a mais de comida.
Além disso, na cultura japonesa, o que faz bem vem na frente do que é mais saboroso.
“Eles têm consciência de que é preciso tomar alimentos que tenham realmente alguma propriedade interessante do ponto de vista funcional”, diz Glaucia Pastore, cientista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que fez parte do doutorado no Japão.
Já foi provado que a redução de calorias na dieta prolonga a vida de camundongos. O baixo consumo de calorias reduz os efeitos negativos dos radicais livres, moléculas que agem no organismo e que estão envolvidas nos efeitos degenerativos do envelhecimento, incluindo cânceres e problemas do aparelho circulatório.
Em humanos, isso nunca foi testado. Mas uma redução equivalente para o homem seria 1050 a 1570 calorias, metade ou 3/4 das 2100 calorias diárias recomendadas pelos Estados Unidos. Essa quantidade equivaleria à antiga dieta japonesa, composta de peixe, arroz, legumes, verduras, derivados de soja e algas.
Apesar de os nipônicos com menos de 40 anos estarem optando por uma dieta mais ocidentalizada com muita gordura, açúcar e poucos legumes e verduras –, a alimentação continua sendo o fator decisivo para a vida longa japonesa. Isso porque pessoas com mais de 40 anos respondem por metade da população do Japão, e são elas que hoje envelhecem e costumam passar dos 70.
Podemos afirmar que a adoção de uma alimentação rica em peixes e frutos do mar, associado a cereais e hortaliças, constitui-se numa alimentação saudável e, portanto promove uma população com maior longevidade.
Vale ressaltar que a dieta pode trazer alguns anos a mais de vida. Mas redução da mortalidade só acontece com estrutura hospitalar, distribuição de renda, saneamento, campanhas de vacinação e conscientização contra doenças.
“ICTUS | O importante é se importar com a vida”